A mulher fresca

Paulo Rebêlo // junho.2004

Mulheres adoram fazer analogias históricas, culturais, antropológicas, sociais, econômicas, políticas, geográficas, químicas, filosóficas e metafísicas para classificar os vários tipos de homens existentes no mercado. A gente cansa de ouvir essas classificações em mesa de bar e de ler em revistas.


Com homem as coisas são bem mais simples. Existem apenas três graduações genéricas: a derrubada, a comestível e a filé. É padronizado, que nem linguagem binária. Pode variar a nomenclatura, como trocar ‘derrubada’ por ‘tribufu’ ou ‘bagulho’, mas o contexto é exatamente igual. Existe uma ou outra graduação superior ou inferior às três genéricas, mas cada caso é um caso e a gente se entende bem assim.

No entanto, com a sociedade pós-pós-moderna em ascensão e os efeitos globalizantes cada vez mais presentes no cotidiano das pessoas, a triste verdade é que os homens estão adquirindo muitas das frescuras femininas. Inclusive, sobre classificações sexistas. Estão deturpando demais o meio de campo, criando complexidades em demasia – e desnecessárias. Já vi gente dizer que tem filé nível 1, 2 e 3. Tribufu-chefe, tribufu-sênior e tribufu-júnior. Assim não dá.

O laboratório de experimentos quânticos do cientista-papudinho Super Ranzinza admite, no entanto, uma classificação extra que merece as devidas relevâncias e explicações.

:: FRESCURÁITES CRI-CRI ::

Sob efeitos globalizantes, temos a pior espécie de mulher, abominável na visão de 11 em cada 10 homens: a mulher fresca. É aquela que elegeu a entidade ‘frescura’ como o fundamento sagrado de toda sua existência. Também atende pelo nome de mulher cri-cri.

Ela pode ser bonita, inteligente, boazuda… pode até ser uma deusa. Mas coloca tudo a perder com a frescura excessiva. Sim, porque homem reconhece uma mulher fresca até pelos mínimos detalhes, a quilômetros de distância.

Não tem como disfarçar. Identificamos o jeito de andar, o modo de olhar com desdém quando algo não a agrada, a forma de pegar no copo se tiver uma sujeirinha, a cara de reprovação quando encontra uma formiguinha ou barata na cozinha do bar e, só para completar a desgraça, os constantes monólogos do tipo: eu não gosto disso, não gosto daquilo, não simpatizo com isso, isso não é para gente feito eu, não vou para esses lugares, não ando com gente assim, odeio fumaça, não gosto de lugares vazios, de lugares cheios, de escuro, de doce, de salgado, blá blá blá, pititi patatá pititi patatá patató patatú.

O problema maior não é quando a mulher é fresca, pois nem sempre a culpa é dela. Pode ter sido influência da família, das amigas na faculdade, das companhias do trabalho. Quem sabe, até do namorado. Sim, porque pior do que mulher fresca, só mesmo homem fresco.

O grande viés é quando a mulher fresca sabe que é fresca e faz questão de ser fresca. O mais engraçado é que, se a gente parar e pensar, vai notar que uma razoável parcela dessas mulheres vive reclamando que falta homem no mercado. Oh, santa paciência, iluminai essas coitadas.

O Frei Ranzinza faz a súplica. É justamente por isso que as mulheres sem frescuras se dão tão bem, são tão procuradas e cobiçadas. As sem-frescura podem até não querer namorar, esquematizar, furunfar ou até não querer nada com homem mesmo, mas nunca podem reclamar que não vive chovendo regador querendo cuidar do jardim delas.

Como diz o Arnaldo César Coelho, “a regra é clara”. Homem foge de mulher fresca como o diabo foge da cruz; e corre atrás de mulheres simples como o papudinho corre atrás do copo. E tem mais. Entre uma mulher bonita, porém fresca, e uma mulher derrubada, porém simples, é muito mais fácil escolhermos a segunda.

Agora imagine uma mulher bonita e sem frescura? Ai, ai. Elas existem, sim. E o número está aumentando. Não é à toa que a concorrência anda tão acirrada neste mundo pós-pós moderno, pois finalmente as mulheres estão acordando à realidade crua dos fatos: 1) frescura não leva a nada; 2) os espécimes ranzinzas, cuja paciência zen-bundista com mulher cri-cri é razoável, estão em extinção.

Então, fica o conselho para as mulheres, vindo de quem não tem cacife para dar conselho, muito menos sobre mulheres: procure um ser do sexo masculino, que não seja fresco também, mas que lhe conheça, e pergunte na bucha: “eu sou fresca? Muito ou pouco? Tenho cura? Tenho salvação? Devo me suicidar?”.

Sim, a cura existe e é baseada em fórmulas cabalísticas estudadas durante anos e anos em laboratório. O remédio é parar de andar com suas amigas também frescas e parar de tomar caipirosca achando que é bebida de verdade. Após um mês, não havendo resultados, restará apenas o tratamento de choque: ler a cartilha especializada Métodos Ranzinzas Contra a Frescura, em vias de produção.

4 Comments A mulher fresca

  1. Orlando Amaral

    Concordo plenamente, só acho que realmente exista uma sub classificação para as mulheres do tipo derrubada, que são conhecida como as 3 graças:
    A desgraça, a sem graça e a nem de graça.

  2. Jaque

    Muito legal a matéria. Só torço para que você mantenha a esperança de que o número de mulheres bonitas e simples está crescendo… Já que na modernidade as mulheres estão se dando o luxo de escolher minunciosamente os seus parceiros e de mandar na relação, por exemplo. Mas elas existem sim. Só sugiro que os homens se desarmem cada vez mais dessa repulsa por mulheres consideradas feias, já que o que fica, no final, é o que ela pode lhe oferecer de melhor, ok?

    Parabéns pela matéria

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